Thursday, February 25, 2010

Cinzento


Pois, cinzento do céu, cinzento em mim...

Sempre que atinjo um determinado patamar (90, 85, 80,...) acabo por relaxar um pouco o rigor que devo ter. Na verdade, o esforço é tanto que muitas vezes apetece descansar um pouco, não pensar exaustivamente "podes apenas comer isto, não podes comer mais nada".
Ainda não percebi porque é que tive o azar de ter compulsões alimentares e isso fazer de mim alguém cuja recuperação e manutenção terão que ser para sempre... Quem olha de fora acha que é apenas uma dieta mas eu sei que é muito mais do que isso. Estou a fazer uma cura de dentro para fora, estou a mover pedras do meu caminho com as minhas próprias mãos e, até chegar a um ponto em que me sinta "reabilitada" estou sempre atenta, concentrada, como se me estivesse a vigiar a mim mesma. Será que alguém imagina como isso é cansativo???
Tenho pensado muito em tudo o que fiz no passado, muitos comportamentos compulsivos que ainda me trazem muita mágoa. Tento entender porque é que comia de forma tão descontrolada, porque é que fiz tanto mal a mim mesma. Tanta gente acha absurdo que se procure conforto em algo básico como a comida, mas é de todos os vícios o mais forte porque o prazer que vem da satisfação de uma necessidade básica é muito superior a qualquer outro. Entendo melhor agora o meu comportamento, tinha tantas frustrações e chatices que só quando comia é que conseguia ter um pouco de paz, de satisfação, era o meu momento de controlo. E, claro, quer-se mais. Eu tinha um hábito que consistia em vir para casa rapidamente para me esconder do mundo e antes passava pelo supermercado e, na maioria das vezes comprava exactamente as mesmas coisas: 8 empadas, 4 bolos e um grande milka de caramelo. Percebo agora o porquê, percebo o meu mecanismo inconsciente: gosto muito de empadas e ao comer a primeira a satisfação era imensa; por isso procurava a mesma sensação, ou aumentá-la, comendo mais empadas mas, chegava ao ponto em que já não sentia o sabor e a sensação de prazer anulava-se; passava por isso aos bolos, recomeçando a sentir o conforto, a segurança de ter dentro de mim algo que me fazia sentir bem; novamente, à medida que me sentia cheia, sabia que queria comer algo diferente, mas que me trouxesse ainda a sensação de paz momentânea e dirigia-me ao chocolate. Trata-se de buscar a sensação de conforto e prazer, até não se aguentar mais porque o estômago está tão cheio que julgamos que vamos desmaiar. Para depois termos vergonha, muita vergonha de nós mesmas e afastamo-nos de tudo o resto: nunca compensou mas custa muito a parar.

Tento entender-me, só quando nos entendemos e percebemos o porquê é que nos podemos afastar das situações. A linha que separa a satisfação de comer da minha compulsão, só agora começa a ficar visível e eu não quero que seja apenas uma linha: quero que seja um muro.