Amanhã será o meu regresso oficial a Lisboa, aquele regresso de natureza mais definitiva do que tem sido até agora que só lá vou poucos dias. É um grande marco na minha vida, muito mais do que pode parecer à primeira vista. Sim, é verdade que já circulo por Lisboa há uns 7 anos mas não foram tempos lineares, foram tempos muito diferentes dos de agora. Eu explico...!
A primeira fase foi quando entrei para universidade, acabadinha de sair do 12º, cheia de sonhos e entusiasmo, conhecendo pessoas, saindo muito... :D pois, um eu muito mais adolescente e despreocupado do que hoje em dia, que via a capital como um admirável mundo novo.
Depois tive uma fase (a mais longa de todas) em que me deixei prender totalmente pelo namorado que tinha na altura, que era tão ciumento que eu não podia falar com ninguém ou sair sem ele sem que houvesse logo confusão. Foi a fase que me fez engordar drásticamente, em que perdi bons amigos, acumulei frustrações e fracassos... E Lisboa parecia-me cansativa e cinzenta, vazia. Esta é, pois, a fase mais vergonhosa em todos os sentidos.
Seguiu-se a isso uma época em que entrei numa grande turbulência. Queria mudar mas não sabia o quê, sabia que haviam coisas erradas mas não conseguia corrigi-las, enfim, vá de dar cabeçadas por todos os lados à procura do caminho certo. Desisti do curso em que estava, arranjei trabalho numa empresa, fui tentando ganhar distância do meu ex-namorado, escapando-me da prisão domiciliária, voltando a gostar da cidade.
Quando voltei a cruzar-me com o Príncipe cheguei à fase corajosa e explosiva, revoltei-me contra a minha vida até ali, quis mudar tudo. Veio-me uma enorme força e uma imensa clareza de pensamentos, certezas. Vivia em constante adrenalina, comecei a tratar da minha entrada em outra universidade, deixei o meu namorado, afastei-me de muita gente que estava na minha vida porque eram amigos comuns e que se revelaram pessoas destrutivas. Nessa altura Lisboa era o lugar que fazia a minha vida correr rápido.
No verão passado, voltei para o algarve, já numa fase em que queria paz e sossego e não conseguia, e piorou quando regressei a Lisboa porque era ameaçada, tinha medo de andar na rua, tinha medo de tudo: aquele parvalhão nem na hora de acabarmos foi decente!
Ao longo de todas estas fases, nunca cuidei de mim, esqueci-me e tinha a comida para me ajudar a fazê-lo. Vim este verão para uma mudança drástica, precisava de tempo para mim, para olhar e pensar em que sou, organizar ideias, sentir-me realmente viva. Foram 4 meses que tirei para renascer, para voltar a gostar de mim, para deixar que o Príncipe se aproximasse sem barreiras, para voltar a sorrir com intenção. Pude tirar este tempo e fi-lo perto das pessoas que mais gostam de mim. Mas chego à fase em que tenho que deixar a incubadora, voltar para Lisboa sem suportes de nenhum tipo, tendo que me concentrar para não voltar a refugiar-me na comida, recomeçando do zero a nível de rotina, amigos, projectos... Bah, por mais idiota que possa parecer, estou cheia de medo! A cidade vai parecer-me totalmente nova e gigante. Ainda por cima sem o Príncipe... Medo de estar sozinha, medo de engordar... Ai, sinto-me bem pequenina, encolhida na cama, está escuro e eu tenho a certeza que há monstros debaixo da cama...