Hoje resolvi sair um pouco do âmbito da cultura para me debruçar sobre o social.
Vejo no Telejornal da hora de almoço os últimos números da adesão à greve - abaixo das expectativas, pois claro, quem é que pode perder o vencimento dum dia de trabalho, mesmo que ele seja baixo e oferecer ao Estado uma percentagem daquilo que ele lhe paga quase por favor?
Enquanto professora só fiz greve uma vez e por solidariedade pois nem sequer estava convocada para os exames desses dias. Mesmo assim tiraram-me cerca de 200 euros no vencimento ao fim do mês. E greves de professores não têm consequências nenhumas, só servem para os alunos se divertirem e andarem pelos shoppings a passear...
Outra notícia que despertou a minha atenção, foi a de que muitos sem-abrigo pernoitam na gare do Oriente, aquele monstro de betão com espaço que daria para fazer dez casas ou mais onde abrigar estas pessoas que o azar atirou para as ruas.
Não é só cá. Lembro-me de ver sem abrigos em Londres, em NY, em Paris, com climas gélidos. Passei duas noites em gares, por viajar de noite em grupo e sei quanto custa não termos onde encostar a cabeça e esticar as pernas. E eu tinha 19 anos.
Vieram-me as lágrimas aos olhos ao ver os jovens a entregar refeições na estação, o modo como abraçavam os necessitados, o carinho com que os tratavam. Ainda bem que há gente generosa. Um dos homens que ali estava, com bom aspecto físico e sapatos engraxados, explicou que é epilético e que não há patrões que o admitam. Ou seja, despedem-no mal sabem que ele sofre de epilepsia. Tive uma estagiária que sofria dessa doença e sempre deu aulas, embora, pessoalmente tenha tido muitas complicações durante a vida. As doenças mentais são a maior razão de ostracismo e de miséria. Não há qualquer protecção social para quem sofre destas doenças, nem sequer podem fazer seguros de doença. Sei-o bem.
Este país não é para velhos, nem para deficientes, nem doentes, nem sequer para jovens licenciados, casais novos com crianças, este país não é para quase ninguém....