Da próxima vez que os gajos do MEO ou da ZON me tocarem à campainha eu juro que os recebo de caçadeira em punho.
Multiplicam-se como coelhos, todos os dias tenho uma cara nova a tocar-me na campainha com o mesmo discurso de sempre.
E parece que têm um sexto sentido para aparecerem sempre na pior altura possível.
Já para não falar do modo como abordam o cliente, parece um interrogatório da PIDE: «Ainda não tem o serviço Triple Play? Como é que é possível não ter Internet em casa? Não quer ter Internet em casa? Porquê? Foi promessa ou é uma ave rara que vive isolada da civilização dividindo o seu tempo entre o programa do Goucha e as novelas da TVI e nos entretanto ainda consegue dar uma perninha nas tardes da Júlia e fazer uma chamadinha para os discos pedidos da rádio local onde aproveita para mandar beijinhos para toda a gente que já passou pela sua vida.»
Nas primeiras abordagens, pela agressividade do discurso, quase me senti forçada a justificar a minha vida, as minhas opções e o porquê de ainda conseguir respirar sem Internet em casa. Supostamente deveria estar num estado vegetativo.
Com o tempo aprendi que educadamente receber e ouvir quem está a tentar ganhar a vida da forma possível não se aplica ao sector das telecomunicações. E então passei a ignorar completamente aquilo que dizem e limito-me a dizer: «Os senhores estão de férias, não estou autorizada a abrir a porta» ou, quando estou com mais algum tempo, ouço o que têm a dizer e no final levanto o dedo e profetizo: «A Internet á uma obra do Demo, e os senhores são os mensageiros da sua palavra». Normalmente é o suficiente para darem a visita por terminada.