Hoje acordei com os passarinhos, que aqui cantam a qualquer hora. Na casa ao lado há um grande pinheiro manso, que por sinal, tem sido motivo de desavenças por nos roubar bastante sol da parte da tarde. O pinheiro agora cresceu e está acima dos telhados, dá um tom florestal ao jardim e abriga estes seres maravilhosos - não sei como se chamam - que cantam desalmadamente, em uníssono com o mar e com o vento simultaneamente.
Gravei-os em vídeo.Vai levar algum tempo a descarregar. Oxalá consigam ouvi-los:
E embora este poema de Sophia nada tenha a ver com os pássaros do meu filme, resolvi transcrevê-lo, pois tem muito a ver comigo e aquilo que estou a viver neste momento. Dedico-o à minha filha Luisa, cuja expressão de felicidade aqui na Luz me encanta.
O POEMA
O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê
O poema alguém o dirá
Às searas
Sua passagem se confundirá
Como rumor do mar com o passar do vento
O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento
No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas
(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)
Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas
E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo
Sophia Mello Breyner: De Livro Sexto (1962)
Em vez de poema....leia-se blogue...e adapta-se a mim, que não sei fazer poemas.