Para quem não se lembra, até porque não o refiro muitas vezes, voltei recentemente aos estudos e encontro-me num curso de enfermagem. Já não sou exactamente uma adolescente (tenho 26 anos) e isso, apesar de ser tantas vezes uma grande merda em termos escolares e de continuação de vida, também é o que me permite aliar experiência de vida com aprendizagem. Hoje foi um daqueles dias em que um acontecimento, que poderia ser classificado como um mero acaso, mudou a minha vida fazendo com que eu desenhe novos contornos para o meu futuro.
Eu, e o meu grupo de de 4 colegas, estávamos num sítio onde não costumamos ir muito: a zona de cuidados intensivos das urgências. Estávamos com a coordenadora e ela permitiu que ficássemos quando deu entrada um bebé, um recém nascido que tentava agarrar-se à vida. Ficámos muito quietos e sem dizer uma única palavra enquanto víamos 6 pessoas movimentarem-se desenfreadamente em volta daquele corpinho tão pequeno e frágil. Não adiantou, não se conseguiu salvar aquele menino. O choque para mim foi tremendo, foi único, como se uma força enorme me agarrasse pelo colarinho da bata e me levantasse no ar, encostando-me à parede e dando-me uns safanões valentes. Decidi naquela altura, no meio da morte, que quero especializar-me em saúde neo-natal e obstetricia. Descobri que afinal não tenho medo, que afinal posso dar muito mais, que serei muito feliz no meio de recém-nascidos, que saberei lidar com as perdas porque tenho a certeza que a vida será sempre superior.
Significa que terei que adiar a minha vida com o Príncipe mais um ano para além do previsto, mas significa também que encontrei o rumo exacto para mim e, apesar de ter ainda um aperto no peito por aquele bebé, estou feliz: feliz porque nunca julguei ser tão forte.