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Saturday, June 4, 2011

Sábado in-between

Hoje é um dia no meio... no meio de eventos, em que se sente um certo vazio depois de tanto frenesim mediático.

Mas para mim é um dia especial, que quero partilhar convosco hoje... os meus netos foram para umas bodas de prata e o meu filho mais velho para Osaka,onde vai receber o Prémio Internacional de Jovem Cientista do Ano no Congresso Anual de Telecomunicações e apresentar o seu primeiro livro, Physical-Layer Security - From Information Theory to Security Engineering publicado pela Cambridge University Press. Estou muito orgulhosa, mas infelizmente não posso estar presente a não ser através do skype.Nem sequer consegui por aqui a foto da capa do livro pois não consigo gravá-la do site.

Todos os dias são diferentes. Hoje também tenho cá o meu filho mais novo, que dorme depois de duas noites de estudo em Lisboa. Em geral, pouco estamos juntos, mas é grato ouvi-lo dizer: Que bom que é estar aqui no Porto!
E ainda há a net.
Aqui encontra-se um manancial de motivos para nos distrairmos e alegrarmos e até podemos dialogar com a família e os amigos.

No Facebook, abriram agora uma página exclusiva para os fotógrafos amadores do Woophy e ponho lá fotos todos os dias, recebendo mensagens ou "likes" de outros amadores como eu.
É uma troca de momentos únicos, alguns belos, outros neo-realistas, originais, artísticos quase todos peculiares e criativos. Descobri que duma foto se podem fazer muitas outras, cortando pedacinhos mais interessantes em si mesmos do que a foto inteira.E tenho feito isso com prazer. Este exemplo de alfazema é um deles.
Amanhã teremos outros motivos para estar presos aos media. Oxalá este país descubra um way out, como dizem os ingleses. De tanto nos compararem com a Grécia, já estou com verdadeiro horror aos gregos que não me fizeram mal nenhum....:)

Monday, May 9, 2011

Inquietude



Tenho andado um pouco depressiva....acho que é a ausência dos meus filhos - um nos EU, outra na Inglaterra, o mais novo em Lisboa....sinto-lhes a falta sempre, mas há alturas em que me parece que nada tem cor, o mundo fica a preto e branco, baço, sem sentido. Os netos são amigos, mas são pequenos seres independentes de mim e, ou vêm todos a minha casa...ou não vem nenhum, acabo por não criar uma relação profunda com eles, como desejaria. Tém uma VIda, exigente demais na minha opinião e de que não faço parte por moto próprio. Gosto muito deles, mas nunca quis substituir-me aos Pais, acho que já sacrifiquei muito pelos filhos e não tenho coragem de me sacrificar do mesmo modo pelos netos, mesmo que pague esse preço com uma relativa solidão. Levo tempo a recuperar quando o meu filho mais novo vem ao fim de semana e parte ao domingo à tarde. Ele só vem de tres em tres semanas e o tempo que estamos juntos é escasso.

Hoje fui ao Solinca health club, onde me inscrevi há duas semanas. Aproveitei tudo, ginásio, piscina, jacuzzi, sauna, etc. Saí de lá como se tivesse levado uma tareia, com dores no joelho de bicicletar e até me custou a andar até casa. Estou com sono, mas renitente em dormir a esta hora, vou aguentar-me até à noite. Dói-me o corpo todo, não sei se abusei, se esttive muitos dias sem fazer os exercícios e o corpo agora ressente-se. Não estou confortável comigo própria.

Acabei ontem de ler um livro: Histórias do Fim da Rua de Mário Zambujal . Não escreve mal, observa bem, cria personagens patuscas, revela algum sentido de humor...mas tudo espremido é uma croniqueta sem grande conteúdo, pintando uma sociedade mais que medíocre, onde não me revejo. É deprimente q.b. Como muitos livros de autores portugueses.

Ontem revi o filme O Leitor,, cujo livro já tinha lido. Que diferença"! Personagens com profundidade, com densidade psicológica, com dramas interiores, apaixonantes. Foi um filme que me deixou marcas e que ainda hoje me impressiona por se debruçar sobre o problema da culpa e da responsabilidade em tempos de guerra, aqui durante o nazismo. A actriz , Kate Winslet é colossal, confrangedora na sua sinceridade quase pueril. Ralph Fiennes, sempre o mesmo perfil, belo e generoso. Em 2008 gostei muito do filme. Li o livro e adorei a história, ficção ou não, tem muito de verídico.

Está uma tarde lindíssima, céu azul...algum vento, o barulho dos carros na minha rua...a empregada saiu há pouco e deixou tudo limpinho, é só uma vez por semana, mas sabe bem. Tenho tudo para ser feliz....

Saturday, April 23, 2011

23de Abril - DIA INTERNACIONAL DO LIVRO E DOS DIREITOS DE AUTOR



Não sabia que se festejava hoje este dia, que, na minha opinião, deveria ser comemorado em todo o mundo com eventos, festas, feiras e homenagens ao mais precioso objecto que alguma vez foi inventado.

Não exagero, não!

Sem livros, o que seria de nós?
E se não soubéssemos ler?
E se ninguém soubesse escrever?
E se não houvesse editoras que publicassem livros?
E se não existissem bibliotecas, onde as pessoas podem ler sem pagar nada, trazer livros para casa e devolvê-los mais tarde?
E se as crianças não tivessem nenhum livro em casa?
E se nas nossas salas não houvesse estantes, nem lugares onde os livros assumem o lugar preponderante?
E se abolissem os livros e implantassem a obrigatoriedade das tecnologias para o ensino?
E se desaparecessem os manuais escolares?
E se....


Escolhi propositadamente um quadro da minha amiga Teresa Vieira, que está na minha sala, para celebrar este dia.
Os livros sempre fizeram parte da minha vida, desde que me deram o primeiro - devia ter uns dois anos, lembro-me que era de pano e ficava molhado, quando chovia. Ontem estive a ler ao serão um dos livros que mais me apaixonou na minha juventude: Jane Eyre. Fui ver a nova versão 2011 com a minha filha, ontem, e como sempre acontece com estes filmes extraídos de livros ingleses, fiquei extasiada com a atmosfera, a solidão, a natureza e os sentimentos em uníssono, a sobriedade das personagens, os silêncios que falam, a pintura da época. Nos romances, tudo é descrito com enorme pormenor..mas nos filmes essas palavras são substituídas pela música - o soundtrack é do maravilhoso Dario Marinelli - e pelos cenários tão verosímeis que até estranhamos quando saímos da sala no fim do filme e damos de cara com as pipocas, as famílias dos shoppings, as lojas berrantes, as escadas rolantes, as luzes e o barulho.

Há livros que nos marcam e eu poderia aqui citar mais de dez que nunca mais esquecerei. Também há livros que se lêem e depressa desaparecem da nossa memória. Fiz uma tese de licenciatura que focava a construção do romance e se centrava no autor Graham Greene. Tem 400 páginas e para a escrever li treze romances do autor e não sei quantos livros de referencia. Estive em Londres a pesquisar durante mês e meio, passando os dias na biblioteca da Universidade a copiar á mão passagens de livros e revistas ....não, não havia fotocópias em 1970! - e depois escondida num quarto que dava para o jardim da minha casa, onde tinha algum sossego e podia mergulhar no mundo greeninano. Sei de cor algumas partes desses romances, foi uma experiência inesquecível, ainda que não servisse para nada em termos de carreira, pois a tese foi abolida a seguir ao 25 de Abril e todos os licenciandos passaram a licenciados automaticamente.

Neste momento leio tres livros ao mesmo tempo. Gosto de variar e já não me contento com ler livros de fio a pavio. Nem consigo concentrar-me como dantes. Já oiço mais musica do que leio, fruto do tempo. Mas não há nada como passar uma tarde esquecida, no sofá, a ler um bom livro. Ainda bem que ainda há quem escreva...

E aqui fica o trailer do filme que aqui citei...para os romanticos como eu, que já viram n versões do mesmo, mas nunca se cansam dos clássicos.

Sunday, April 3, 2011

DIA DO LIVRO INFANTIL

Ontem celebrou-se o Dia do Livro Infantil. Li no Público o depoimento de várias pessoas que escrevem e outras que só aconselham vários livros para os mais pequenos. Pessoalmente, há livros que me encantaram quando era criança. Lembro-me do Feiticeiro de Oz, numa edição grande com os desenhos originais a preto e branco, os livros da colecção Azul,
com predominância para os da Condessa de Ségur, que líamos vezes sem conta. Mais tarde comecei a ler os Cinco, um primo meu ofereceu-me o primeiro quando fiz 10 anos. A Editorial Notícias publicava um de vez em quando e ele encarregava-se de nos oferecer os livros mal eles chegavam. Ás vezes havia bulhas lá em casa pois todos queríamos ler ao mesmo tempo. Um pouco mais tarde lia tb com agrado as biografias de cientistas e pessoas célebres nas colecções de Adolfo Simões Muller. Em adolescente já lia Pearl Buck, Berthe Bernage ( tão beata:)) e Júlio Diniz.
Os meus filhos já tiveram outras leituras, embora a minha filha fosse muito tradicional e lesse quase tudo o que eu li. Ela propria comprou a colecção Azul novinha e ainda os livros da Anita, os da Enyd Blyton todos. Os meus filhos rapazes gostavam muito do Triangulo Jota e o Clube das Chaves e tb de Uma Aventura...mas o mais novo lia muito Banda Desenhada do Tintin, Asterix, Alix, Lucky Luck, biografias, livros sobre História de Portugal ( cor de laranja) e até vários livros com histórias da Bíblia, que ele adorava. Não tínhamos o hábito de lhes ler antes de irem para a cama, em geral ouviam música que eu punha a tocar no corredor junto ao quarto deles.
Os meus netos têm uma panóplia de livros em casa e todas as noites ouvem ler uns tres capitulos de uma história, quer pela Mãe ( que por vezes adormece antes deles) , o Pai ou eu , se calha lá estar. Querem ver os bonecos todos e acompanhar a leitura, é um momento muito doce ao fim do dia.

Queria aqui falar dos livros de poemas para crianças da minha amiga Regina Gouveia,

já vão em três e são muito belos para as crianças, pois juntam o amor pela ciência à poesia. A escritora e professora de Física tem-se desdobrado em workshops para crianças, juntando a Física, a Astronomia e Ciencias, em geral, à Poesia , em escolas por esse país fora. Os testemunhos podem ser lidos no seu blogue Do Caos ao Cosmos e nos blogues das escolas que visitou.

Fica aqui um poema dela para s mais pequeninos:

Perguntaram à Maria


o que era a poesia

e a Maria respondeu:

É saber olhar o Céu,

ouvir as ondas do mar,

e sentir a maresia,

as aves a chilrear,

desde que o sol se levanta,

deixar a areia escapar

por entre os dedos da mão,

é saber ouvir o vento

que traz sempre uma mensagem

quando chega de viagem.

É acarinhar a terra,

cada animal, cada planta,

cada pedra, cada rio.

É cantar ao desafio com o melro,

o gavião, e também a cotovia,

o pardal , o rouxinol.

É saudar o arco-írisnum dia de chuva e sol

In Ciência para meninos em poemas pequeninos

Thursday, October 14, 2010

The Real Van Gogh



Há tempos falei-vos de uma exposição que esteve patente ao publico em Londres no aniversário da morte do pintor. Transcrevo aqui o que escrevi:

Este ano, a Royal Academy of Arts, em Londres, organizou uma expo em que procurou revelar O Verdadeiro Van Gogh com 65 pinturas, 30 desenhos e 35 cartas raramente vistas. Uma vasta exposição baseada no trabalho sobre a correspondência do artista feito por um trio do Museu Van Gogh de Amesterdão, Leo Jansen, Hans Luijten e Nienke Bakker.
Durante 15 anos, estes peritos prepararam uma monumental edição anotada, incluindo reproduções das cartas originais, muitas delas com desenhos, que já se pode adquirir nas livrarias e pelos sites online.


Da exposição foi produzido um livro único. Em Leeds estive já por duas vezes com a obra nas mãos, folheei-a calmamente e não fora o peso e tamanho da mesma tinha-a comprado, tal é a categoria da publicação. Custa 40 libras.

Há dias recebi um email da Amazon UK de que sou sócia há anos, informando-me de que não pagaria os portes em obras encomendadas, acima de x euros ou libras. Fiquei muito interessada nessa oferta pois, em geral, paga-se muito pelos portes e quase anula o desconto dos livos.
Fui à procura do "meu" Van Gogh" na Amazon e qual não é o meu espanto quando vejo que o mesmíssimo livro - The Real Van Gogh - está a metade do preço - era 40 libras e está a 21 - online. É uma verdadeira pechincha por um volume com tanta riqueza de conteudo, excelencia de edição , encadernado e único!

Vou encomendá-lo já hoje e aqui fica o recado para os amantes de compras online! Não é publicidade....é só informação cultural!

Tuesday, August 3, 2010

Dia Decisivo_Segunda Fase da Revolução

Vou, antes de mais, falar-vos do meu fim-de-semana perfeito!
Sábado
, passei o dia na praia com o Príncipe, fomos almoçar sushi e ficámos na areia até ao fim da tarde: mar, sol e amor é tudo o que preciso para me sentir perto do Paraíso!

Domingo
fomos passear de barco (apesar de este ser o meu prémio quando
atingisse os 75, o meu Príncipe levou-me na mesma!), com direito a algo que nunca tínhamos feito: nadar em alto mar, é das melhores sensações que já senti e adorei quando no regresso voltámos a saltar do barco e fomos a nadar até chegarmos à areia da Meia-Praia.

Hoje comecei a ler "Os Olhos Amarelos dos Crocodilos"...

Hoje vou pela PRIMEIRA vez suar no Solinca e em todos os minutos tento mentalizar-me que correrá bem, que conseguirei acompanhar as aulas, que não vou ser olhada como diferente. Por agora, todas as sensações têm sido positivas em relação ao local, as pessoas são simpáticas e o espaço é agradável, muito. Não vou recuar, será mesmo hoje.
Não sei se me conseguem entender quando digo que me preparo para enfrentar um dos meus maiores traumas (que vem desde as aulas de Educação Física, onde
era a gorda desajeitada, sempre). Preparo-me para conquistar um lugar no mundo que sempre me esteve barrado, ou que se tornou difícil de alcançar e eu acabei por desistir.
No Verão passado iniciei uma RA, uma revolução de vida. Mudei radicalmente a minha alimentação, a minha postura perante as coisas, mudei a percepção que tinha de mim mesma e fiz nascer do zero uma quantidade astronómica de amor-próprio. Este Verão começo a segunda fase dessa revolução: a conquista do peso que vejo como ideal para mim, a conquista do corpo que é meu e passou a vida inteira oculto, a conquista da sensação de estar inteira e plena, a conquista de um lugar no mundo em que não estou a mais e em que já não há limites por causa da minha forma física.

Torçam por mim porque este é um dia muito importante e oscilo entre as
lágrimas e a ansiedade, torçam por mim porque sei que entenderão que nesta minha metamorfose, esta fase é aquela em que saio do casulo e estico as asas!

Wednesday, July 21, 2010

The Ghost Writer



Polanski sempre deu que falar.
Lembro-me do seu nome desde que me lembro de ir ao cinema. Por sinal o primeiro filme dele, que o meu ex- insistiu em ver - éramos intelectuais (!!!) nos nossos vinte anos - depois de uma breve discussão sobre se deveríamos ir ao "O Jardineiro" ou ao "O Beco" e fomos a este último de Polanski, decepcionou-me muitissimo, era " uma seca" como diríamos agora.
Monótono, sem enredo quase.

O filme que fui ver ontem com os meus tres filhos é o contrário.Um thriller com a técnica e atmosfera inglesas e um realizador europeu. Excelentes actores Ewan McGregor em destaque, muito low profile, uma paisagem lindíssima numa ilha, que é suposto ser Martha Vineyard, perto de Boston - onde estive no ano passado - mas que fica na costa alemã, na realidade. Um puzzle que só se deslinda no fim e sobre o qual não conto nada, pois iria ser uma spoiler e estragaria o prazer de quem não viu o filme.
O romance foi escrito por Robert Harris, que também auxiliou no argumento

Não estamos aqui perante nenhuma obra-prima, nem filme de culto, mas são duas horas muito bem passadas - não fossem as pipocas e os risinhos de pessoas que não sabem o que é cinema, nem silêncio. Custa-me verificar que hoje em dia, muitas pessoas não conseguem estar às escuras numa sala, sem conversar, dizer disparates ou comer. Mal empregadas sessões de cinema com tanto conforto e ambiente. Ainda por cima os meus cartões ZON e o Visa deram-me dois dos quatro bilhetes!!!

Uma soirée bem passada, que aconselho a todos os que gostam de bom cinema.

Saturday, July 17, 2010

Há livrarias que não deviam morrer...( in memoriam da Borders, UK)


Sempre adorei livrarias, mesmo quando não tinha dinheiro para comprar mais do que o jornal Letras e Artes, mas namorava tudo o que é livro, sobretudo os estrangeiros, franceses e ingleses, não por falta de patriotismo, mas porque desde pequena que as duas línguas eram para mim perfeitamente claras e havia muito mais diversidade de literatura à venda. Quando era criança, fui muitas vezes à saudosa Ática, na Rua Alexandre Herculano, que ficava por baixo do consultório do meu Pai e que pertencia á minha Madrinha. Que sorte, dirão os leitores deste blogue. Era mesmo, mas não aproveitei o suficiente. Nos dias dos meus anos, a senhora, que é francesa, casada com um primo direito da minha Mãe, dizia-me, persuasiva no seu sotaque de rrs rolados: " Minha querrida filha, vai à Ática e escolhe uns livrrros que queirrrras lerrr".
Não me esqueço da sensação estranha que era entrar naquela loja cheia a abarrotar de livros lindos e escolher algum para mim. O empregado cheio de mesuras e eu petrificada perante a responsabilidade. Lembro-me de, uma vez, com uns 4-5 anos, ter escolhido um livro daqueles em que se abrem as páginas e elas são todas recortadas de modo a formar uma imagem em três dimensões dum castelo, de fadas ou anões. Nessa altura não havia em lado nenhum livros desses, como há agora. Era lindo com salpicos dourados e prateados a cair da varinha de condão da fada.Nunca mais o esqueci.
Noutras alturas, desapontei a minha madrinha seriamente pois escolhi livros dos CINCO, que eu adorava e lia várias vezes de fio a pavio, às vezes até a meias com as minhas irmãs, acabados de sair da editorial DN. Ela achava que os livros eram pechincha demais para serem prenda de anos e acabava por me dar outra coisa mais categorizada. Se eu soubesse teria pedido a colecção toda do Fernando Pessoa ou da Sophia, editados pela Ática.Mas só tinha uns dez anos.
Outras livrarias que fazem parte do meu imaginário são a Buchholz, na Rua Castilho - ou lá perto - onde passava horas esquecidas sentada ou ajoelhada no chão a folhear os livros que eles tinham em montes espalhados, já que as prateleiras estavam cheias. No meio de toda a literatura alemã, ainda encontrava os meus queridos Livres de Poche, gordinhos e com capa muito colorida. Li inúmeras obras inglesas ou americanas em francês pois gostava muito mais dos Livros de Poche do que dos da Penguin, com letra demasiado pequena e muito densos. Para ler os clássicos alemães, comprei muitos da colecção Aubier, que tinham do lado esquerdo a versão francesa e do lado direito a alemã, o que tornava a leitura bem mais acessível. Schiller, Lessing, Goethe e outros, foi quase tudo lido nessas edições bilingues e muito caras. Ia-se a minha mesada num ápice e o meu Pai não era muito generoso. A minha Madrinha, nessa altura, já não me oferecia livros....:)

Aqui no Porto, tinha uma livraria de estimação, mas que não ficava muito à mão: a Leitura, na Rua de Ceuta.. Agora já há uma no shopping Cidade do Porto que é muito agradável. Perto ficava a Livraria Britânica, especializada em livros dessa nacionalidade. Muito dinheiro lá gastei para o ensino... ainda agora me pergunto se valeu a pena. Como já trabalhava para a Porto Editora, comprava muito, tudo o que saía de novo, até vídeos e cassetes: As Mulherzinhas, Adrian Mole, O Diário de Anne Frank, Os Cinco, tenho tudo em cassete e agora já nem há leitores desses. Os meus alunos não apreciavam o espólio que eu levava para as aulas, achavam tudo muito difícil e , afinal, estava a dar-lhes de mão beijada aquilo que custava uma fortuna.
Há meses fui a Leeds com a minha filha e tive um dos maiores desgostos da minha vida. Saímos na Headrow - rua principal da baixa - e fomos direitas à Livraria Borders, local de culto da minha filha e um dos meus tb por afinidade. Qual não é o nosso espanto quando vimos que a Livraria estava fechada já desde Novembro de 2009. Os vidros sujos, uma papeleta a avisar do encerramento, mais nada. Quase chorei. A Borders era a melhor e mais mística livraria que conheci. Igual ou parecida só a Harvard Bookstore em Boston. Espaçosa, aberta, cheia de cantos e recantos onde nos podíamos sentar e apreciar as obras, ouvir toda a espécie de música com headphones, um stand de revistas com tudo o que há sobre tudo o que acontece, um Starbucks Café, igualzinho aos americanos, com shortbread , cookies e brownies, chás de toda a espécie e um ambiente mágico. Podiam-se lá passar tardes e noites - fechava às 11 pm - e até não comprar nada. De vez em quando iam lá escritores como Paul Auster, Roger McGough ou Yasmina Reza fazer pequenas lectures.
Li no Guardian que a Borders foi á falência, devido à concorrencia da Amazon e outra livrarias online. Um desastre irreparável.
Lá fomos à Waterstones, que é agora a rainha das livrarias, mas não é a mesma coisa. Nem poderia ser.


Espero que esta Entrada não pareça uma panóplia de nomes que nada vos dizem ou, mais grave ainda, expressão de vaidade ou show off. Estou muito comovida ( e um pouco revoltada) ao escrever estas memórias e ao relembrar tantos momentos belos que locais simples como uma livraria podem oferecer aos seus visitantes.

É um crime fechar cinemas como os quatro do shopping Cidade do Porto - Medeia -, encerrados há menos de um mês. Também não se deviam fechar livrarias ou cafés que têm uma história. Essa história é culto e património duma cidade. Ninguém fecha igrejas por falta de visitantes.

Monday, July 5, 2010

Lavender


A minha Avó gostava muito de alfazema, assim como a minha sogra, que a cultivava no seu quintal. Desde miúda habituei-me a ver fotos de campos de alfazema, nos livros ingleses e em calendários, em pinturas impressionistas, em embalagens de sabonetes ou anúncios de colónias. É um cheiro intenso, mas agradável, que nos fica na memória, mesmo quando já nada temos em casa com esse odor.

Há anos comprei em Leeds um calendário, cujas páginas eram todas elas campos de alfazemas. Separei as folhas, cortei-as e colei-as com blu tack no meu quarto de banho. Ficou lindo...agora como tenho paredes em mármore rosa ( de que não gosto muito), já não posso fazer isso, ficaria piroso e destoaria muito em estilo.

Hoje resolvi pintar e encontrei uma foto linda no site one.exposure de que já falei aqui. Não ficou nada parecido, fi-la com pasteis de óleo, de que já está estou destreinada, ultimamente não tenho gostado de nada do que faço.

Este ficou razoável, embora, provavelmente, vá para a capa dos muitos que já fiz e não ficaram para a história :))

Fez-se Luz!

Já há alguns meses que me tornei numa fraude, sim, uma grande fraude e eu nem sequer tinha percebido!
Comecei esta RA como quem faz uma revolução, agarrei tudo com unhas e dentes ao início e os primeiros 15 kg foram-se embora com alguma facilidade. Quando cheguei aos 85 senti-me muito bem porque pensei que nunca mais teria menos de 90 kg. Quando cheguei aos 80 achei que era uma marco vitorioso, há anos que não pesava tão pouco e o tempo foi passando. Esse peso tornou-se no meu peso fixo e eu procurei motivação no exterior: o Príncipe disse que aos 75 me levava a andar de barco como eu tanto queria, eu própria coloquei presentes a cada quilo perdido, até a querida Papillon entrou comigo numa de nos presentearmos por metas, fiz a coisa de pesar 75 no meu aniversário, fiz a meta de 20 dias de exercício intenso e...nada adiantou, furei tudo e mais alguma coisa, queixando-me mas sabotando-me, desmotivando-me...
Este fim-de-semana tive o meu momento de epifania! Tudo começou com o Desafio Zen e com a dicas da Luna sobre visualização de objectivos, de indução da mente. Estava a ver a Queen Latifah o programa do Jay Leno e pensei "não faz mal nenhum se não emagrecer mais" e mal pensei isto, bateu-me com força: eu não tenho realmente desejado emagrecer! Fiquei com isto a martelar-me na cabeça, meio desesperada. O Príncipe levou-me à praia e fomos andar à beira-mar e levei um sermão daqueles que nos abanam e nos fazem voltar à realidade: eu não posso continuar a achar que não mereço mais, não posso estar diariamente a pensar que tudo o que me acontece de bom desaparece, não posso estar sempre a pensar em comida e deixar-me afectar tanto por ela, não posso estar constantemente a vacilar e depois a ficar triste por erros que repito vezes sem conta!
Portanto, ou fico como estou e páro de me queixar, ou arregaço as mangas como uma vencedora e vou à luta! Escolhi a última! Puxei pelo "Segredo" que há tanto tempo ganhava pó na estante e pus-me a lê-lo. Porquê? Porque percebi que o meu optimismo é apenas para os outros, sou tão motivadora para toda a gente e para mim mesmo sou derrotista, sou pessimista, trato-me mal, condeno-me ao falhanço. E vou mudar isso, vou, custe o custar. Sou uma pessoa incrivelmente céptica e não acredito em milagres mas acredito em filosofias de vida, acredito que podemos induzir-nos para o caminho certo, acredito que somos energia e como tal temos poder.
Começa hoje a minha tarefa de destruir a minha cabeça de gorda, a minha cabeça de pessimista derrotada. Vou afastar qualquer pensamento negativo da minha cabeça, vou deixar de estar a pensar em 80 e pensar apenas em 70, vou olhar para mim com um sorriso, vou lembrar-me que consigo e quero.

Portanto, ando a ler, este:

E este:
"O Deus das Pequenas Coisas é a história de três gerações de uma família da região de Kerala, no sul da Índia, que se dispersa por todo o mundo e se reencontra na sua terra natal. Uma história feita de muitas histórias. A histórias dos gémeos Estha e Rahel, nascidos em 1962, por entre notícias de uma guerra perdida. A de sua mãe Ammu, que ama de noite o homem que os filhos amam de dia, e de Velutha, o intocável deus das pequenas coisas. A da avó Mammachi, a matriarca cujo corpo guarda cicatrizes da violência de Pappachi. A do tio Chacko, que anseia pela visita da ex-mulher inglesa, Margaret, e da filha de ambos, Sophie Mol. A da sua tia-avó mais nova, Baby Kochamma, resignada a adiar para a eternidade o seu amor terreno pelo Padre Mulligan... Estas são as pequenas histórias de uma família que vive numa época conturbada e de um país cuja essência parece eterna. Onde só as pequenas coisas são ditas e as grandes coisas permanecem por dizer. O Deus das Pequenos Coisas é uma apaixonante saga familiar que, pelos seus rasgos de realismo mágico, levou a crítica a comparar Arundhati Roy com Salmon Rushdie e García Márquez."


Antes, li:

Sou uma viciadona no Dan Brown e este é assim:
"
Depois de ter sobrevivido a uma explosão no Vaticano e a uma caçada humana em Paris, Robert Langdon está de volta com seus profundos conhecimentos de simbologia e sua brilhante habilidade para solucionar problemas. O célebre professor de Harvard é convidado às pressas por seu amigo e mentor Peter Solomon - eminente maçom e filantropo - a dar uma palestra no Capitólio dos Estados Unidos. Ao chegar lá, descobre que caiu numa armadilha. Não há palestra nenhuma, Solomon está desaparecido e, ao que tudo indica, correndo grande perigo. Mal'akh, o sequestrador, acredita que os fundadores de Washington, a maioria deles mestres maçons, esconderam na cidade um tesouro capaz de dar poderes sobre-humanos a quem o encontrasse. E está convencido de que Langdon é a única pessoa que pode localizá-lo. Vendo que essa é sua única chance de salvar Solomon, o simbologista lança-se numa corrida alucinada pelos principais pontos da capital americana: o Capitólio, a Biblioteca do Congresso, a Catedral Nacional e o Centro de Apoio dos Museus Smithsonian."

Thursday, July 1, 2010

DIA NACIONAL DAS BIBLIOTECAS




Quadro pintado pela minha amiga Teresa Silva Vieira, que se inspirou numa biblioteca alemã para criar esta pintura. O quadro está na parede principal da minha sala.



Muitas horas da minha vida passei em bibliotecas....
Desde miuda, adorava o escritório do meu Avô, forrado de estantes castanho escuro, com livros encadernados - alguns por ele próprio - e com títulos a oiro. Cheiravam um bocadinho a velho, mas transmitiam-nos algo de misterioso e de etéreo. Pelo meio dos livros, havia bibelots trazidos da India a cheirar a sândalo, caveiras várias, budas de todos os tamanhos e cores, Mefistófeles com corpos histriónicos ( um deles veio parar a minha casa pois a minha Avó ofereceu-o ao meu ex-), estatuetas clássicas de crianças a ler, canetas, lápis aparados por ele, um bric-a-brac de objectos pessoais que diziam muito da sua personalidade e vida.
A minha Mãe tb tinha uma biblioteca completa de livros que ainda hoje gostaria de ler - Livros do Brasil, Somerset Maugham, Hemingway, Pearl Buck e Livres de Poche grossos e apetitosos; tenho pena de não ter ficado com alguns que li na minha adolescência e juventude.
A biblioteca do meu Pai era esteticamente uma das mais bonitas que já vi, com estantes de boa madeira avermelhada e fimbria dourado velho, num escritório que me metia um pouco de medo e que só se vêem agora nos filmes ingleses de época. Os livros eram todos encadernados por um tal senhor Horácio, que se esmerava em fazer as colecções todas em couro de cores diferentes. Nunca li livros do meu Pai a não ser na faculdade, pois não eram aconselháveis para crianças ou seriam demasiado puxados para a nossa idade.
Na minha Escola, a biblioteca era um manancial de obras antigas, quase monumentos nacionais e muitas horas ali passei a vasculhar as revistas e livros da minha especialidade - havia tudo - o que me foi muito útil para a elaboração de manuais escolares. Na altura já havia fotocópias de modo que fotocopiava páginas e páginas, com as quais contituí um dossier precioso.
Também adorava a biblioteca do Britânico, trazia de lá livros, cassetes , revistas inglesas actuais, jornais, etc. O sítio era fabuloso e não se resistia a tanto livro inglês!!Passava lá muitas horas, só a folhear as revistas por prazer.

Agora só uma biblioteca pública me atrai e muito: A Biblioteca Almeida Garrett nos jardins do Palácio de Cristal, um dos locais mais aliciantes para novos e velhos.

Hoje estou um pouco "farta" de livros, ou seja, de ter tanto livro em casa que já ninguém lê. Gostava de oferecer todos os meus livros do ensino de Inglês à Escola, mas já ninguém se interessa pelos manuais ou pedagogias ultrapassadas numa era de tecnologias em que até o vídeo se tornou obsoleto. É um desperdício.

Fica aqui um poema de Jorge Sousa Braga, já muito conhecido, mas delicioso:



in: Woophy



As árvores como os livros têm folhas
e margens lisas ou recortadas,
e capas (isto é copas) e capítulos
de flores e letras de oiro nas lombadas.

E são histórias de reis, histórias de fadas,
as mais fantásticas aventuras,
que se podem ler nas suas páginas,
no pecíolo, no limbo, nas nervuras.

As florestas são imensas bibliotecas,
e até há florestas especializadas,
com faias, bétulas e um letreiro
a dizer: «Floresta das zonas temperadas».

É evidente que não podes plantar
no teu quarto, plátanos ou azinheiras.
Para começar a construir uma biblioteca,
basta um vaso de sardinheiras.

Jorge Sousa Braga

Wednesday, June 9, 2010

Comemorar cada quilo perdido

Estranho, estranho é que eu venha com uma nova recarga no meu esforço contra os quilos exactamente na minha semana de TPM, mas é verdade. Tenho que apertar o passo, até porque estes fins-de-semana prolongados não colaboram e eu tenho andado tão cansada que tenho dado grandes margens para preguiças muito prejudiciais. Talvez seja exagerado receber um prémio por cada quilo, mas tem sido tão difícil perdê-los que pode ser que ajude! Vou apelar então ao meu lado materialista de gaja e convencer-me que só com esforço é que vou ganhar determinadas coisas (coisas que quero imenso!), ora vejamos o que planeei para ver se engano este cérebro de gorda:
Ao chegar aos 77 (que será um enorme marco histórico, visto que não tenho este peso desde os 19), vou abastecer-me de vernizes novos de cores mais clarinhas que ficarão lindas na minha pele que começa a ficar ainda mais morena e também alguns da gama de vermelhos capitais: Depois vou pesar 76 e vou querer: E quando chegar aos 75 (aquele número que eu ando há meses para ver e que insiste em não chegar nunca...) vai ser merecedor de uma conta vermelha para a usar na minha Pandora (e as da Bacio são lindas!)
Entrando nos 74, quero:
Os 73 serão merecedores deste creme corrector de estrias que dizem ser uma maravilha (as estrias dos braços já não têm salvação mas pode ser que as da barriga melhorem):
Quando pesar 72 , venha de lá o novo romance do Moita Flores que eu bem mereço:
Mal pese 71 vou a correr comprar um biquini deste género: adoro-os e os posters da Gisele Bundchen espalhados pela cidade (até em frente à minha janela há um) com aquele ar de boazona e com aquela barriga que eu tanto invejo, só me fazem querer com mais intensidade um biquini novo!

E, quando finalmente chegar aos 70 (meta satisfatória para este verão), vou querer um destes perfumes, ainda não consegui decidir qual:



Portanto, Lilith, "ah e tal quero um verniz novo", ai queres??? Então fecha essa bocarra!

Friday, April 2, 2010

Dia Mundial do Livro Infantil

Só agora vi que hoje se comemora este dia tão especial.

Cada vez há mais livros infantis e as crianças adoram ouvir ler, se forem habituados desde pequeninos. O meu neto de 11 meses gosta imenso de ver as páginas a passar com bichos e palavras que ee não compreende , mas vai assimilando no cérebro. Ainda há pouco estive a ler o Gulliver da colecção Formiguinha para o meu neto de 6 anos que já lê, mas ainda gosta que a Avó lhe leia histórias de vez em quando, mesmo quando vem cá para ver o futebol dos adultos !

Sempre gostei de ler e lia muito em criança....alguns livros vezes e vezes sem conta. Estou-me a lembrar de toda a colecção azul, os livros da Condessa de Ségur e depois os Cinco já com dez anos. Muitas horas de puro entretenimento intelectual. Identificava-me com todos os herois e vibrava com os pequenos problemas das suas vidas.

Vou pôr aqui mais uma pequena homenagem à minha amiga Regina Gouveia, que ainda este ano publicou um livro para os meninos e já tinha outro publicado também para os mais pequeninos. São ilustrados por Nuno Gouveia e aconselho-os vivamente pois vão ensinando ciência juntamente com a poesia para os mais novos.




Chuva

Uma gotinha de chuva tem muito para contar. Passa a vida a viajar
Vem lá da nuvem à terra para esta vir regar, pois sem chuva não há vida.
Talvez por ser distraída, ou direi mesmo imprudente,
pode dar inundações e outras complicações.
Em boa conta e medida, nunca é aborrecida nem sequer impertinente
pois não queremos, por certo, que a terra seja um deserto.
Mas voltemos à viagem. Cai na terra, cai no mar
e depois de evaporar à nuvem vai regressar para mais tarde voltar.
Parece não ter paragem.


Regina Gouveia

Wednesday, March 17, 2010

Evocação a Eugénio de Andrade





Sessão de evocação a EUGÉNIO DE ANDRADE

17/03/2010



A Árvore, o escultor José Rodrigues e o editor José da Cruz Santos promovem mais uma evocação do poeta de As Mãos e os Frutos, no dia 20 de Março de 2010, às 16h00, na sede da Cooperativa Árvore.


José Viale Moutinho irá falar dos poemas Elegia da Águas Negras para Che Guevara e outros epitáfios, que serão lidos pelo actor Júlio Cardoso.

Estará exposta a edição de Chuva sobre o rosto, poemas de Eugénio de Andrade à mãe, com vinte desenhos de Jorge Pinheiro.


No mais fundo de ti
Eu sei que te traí, mãe.

Tudo porque já não sou
O menino adormecido
No fundo dos teus olhos.

Tudo porque ignoras
Que há leitos onde o frio não se demora
E noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
São duras, mãe,
E o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
Que apertava junto ao coração
No retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
Talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
Que todo o meu corpo cresceu,
E até o meu coração
Ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -
Às vezes ainda sou o menino
Que adormeceu nos teus olhos;

Ainda aperto contra o coração
Rosas tão brancas
Como as que tens na moldura;

Ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
No meio do laranjal...

Mas - tu sabes - a noite é enorme,
E todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
Dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.


Eugénio de Andrade



Acrílico s/ tela- 2009