Thursday, August 27, 2009

Libertação


Ao fazer a habitual viagem pelos vossos blogs, dei com o último post da Dany e as palavras dela fizeram-me pensar bastante, fizeram-me recordar de muita coisa, até porque as histórias de pessoas que nunca souberam lidar com a compulsão alimentar são parecidas...

Realmente errei muito, errei sobretudo comigo e saí muito prejudicada a vários níveis. O curioso é que todos esses erros se acumulavam e eu, em vez de olhar para eles para os ultrapassar, tapava os olhos com comida. Não há assim tanto tempo quanto isso (talvez uns 3 anos), bastava-me ter uma má nota, ou falhar numa apresentação, e eu só conseguia pensar em comer, o mais certo era ir depressa para casa e no caminho, durante a viagem de autocarro, quase tremia de ansiedade a pensar nas caixas de empadas (duas caixas, 8 empadas), nas tabeletes de Milka de caramelo, nos jesuítas quentinhos, nas enormes sandes de ovo e maionese e mais o que me lembrasse de comprar para devorar escondida do mundo...

O que é que nos acontece para nos tornarmos nisso? Porque é que nos massacramos tanto? O que é que andamos à procura? Essas foram perguntas que só agora consigo responder e acho que só depois de termos essas respostas é que conseguimos ultrapassar e ter força para voltarmos a gostar e cuidar de nós próprios. Até lá, por mais que se tente, voltamos sempre a cair no mesmo e todo o peso que perdemos volta a cair-nos em cima.

Rebobinemos. Para a primeira pergunta, o que me aconteceu de tão mau para eu viver para comer e a comida compensar tudo: efeito bola de neve. Fui sempre mais gorducha que as outras crianças, era também das mais inteligentes, dois factores que levam a que os outros impliquem connosco. Ainda antes de ter noção disso, comia e era das sensações mais maravilhosas que eu tinha. Comecei por aí. Na adolescência foi uma luta constante para tentar igualar as minhas amigas (todas magras) e ser sempre a gorda (pesasse menos ou mais) e ser a rapariga que os rapazes gostavam de ser (apenas) amigos. Talvez por isso, nem sempre me rodeei das pessoas certas, muitas serviram apenas para me desgastar e frustrar e bem...venha mais um pacote de Flipinos para afogar as mágoas... Queria que me amassem, queria-o tanto que deixei de tentar amar, a mim e aos outros. Escusado será dizer que isso só me trouxe mais frustração, fez-me andar cada vez mais triste, fui secando por dentro, perdendo-me e, pela primeira vez, fracassando nos estudos que tinham sido o meu porto seguro, a minha salvação. Fiquei sem nada que me fizesse sentir bem, era eu, pessoas que me consumiam (incluindo o meu namorado na altura), frustrações e fracassos a fazerem montanhas à minha volta: só a comida, a confortável comida.

Quando tomei consciência do mal que fazia a mim própria...não parei de o fazer. Porque é que prosseguimos no massacre? Porque vemos onde chegámos por nossa culpa, gordas, disformes, com roupas que nunca teriamos escolhido, sem conseguir olhar para a nossa imagem no espelho, sem cuidarmos sequer do cabelo, saindo cada vez menos de casa, afastando-nos cada vez mais das outras pessoas, tendo a vida totalmente vazia e, ainda assim, continuamos a procurar refúgio na comida: é a nossa forma de nos castigarmos e compensarmos ao mesmo tempo. Castigamo-nos porque sabemos que estamos a prejudicar-nos e a arrastar-nos para cada vez mais fundo. Compensamo-nos porque a comida, por uns momentos, apaga todas as más sensações. Esse é tipo de efeito viciante que se torna algo entranhado e é a parte mais difícil de solucionar.

A solução passa por olharmos bem para dentro de nós, mudar e buscar aquilo que nos pode fazer realmente felizes. Precisei mudar muita coisa para conseguir alcançar a força para atingir a etapa que falta: perder peso. Temos que nos sentir plenos, preenchidos, felizes, porque a força não se inventa nem vem de lado nenhum: temos que ser nós a produzi-la todos os dias, cada dia mais.

Embora ainda não tenha atingido o meu objectivo, é a 1ª vez que chego tão longe, de uma forma regrada e saudável, é o primeiro Verão que não engordo 10 kg: emagreço. Não cheguei lá ainda mas estou a aprender a ser paciente comigo, tudo porque me sinto, finalmente, livre de tudo o que me amarrava e puxava para baixo, porque só livres podemos tomar de volta as rédeas da nossa vida, porque só nós próprios é que nos podemos libertar e foi assim que (como diz o último verso do meu poema favorito da
Sophia de Mello Breyner Andersen) aprendi a viver em pleno vento!