Já passaram 10 meses... 10 meses que foste... após a tua partida tem sido uma luta constante para aceitar a tua ausência... aceitar que nunca mais estaremos juntas, e isso é tão doloroso... mas aos poucos vou interiorizando que apesar da perda, da dor, que foi o melhor desfecho... um misto, eu sei.
Ao longo destes meses tenho arranjado mil e umas desculpas para não ir à tua casa. Estar num espaço onde ainda as lembranças são tão presentes de tantos episódios vividos de várias nuances que nunca em tempo algum se irão apagar. Histórias só nossas... arrufos tão particulares que nos demarcavam de tudo e de todos.
Ao longo destes meses as desculpas foram-se tropeçando umas nas outras até que sem eu prever, no meu íntimo eu disse: chegou o dia! Não pensei como iria reagir, nem o que iria encontrar. Simplesmente fui...
Ao entrar na sala e olhar para a poltrona onde te encontrava sempre sentada foi um misto de emoções que ali, naquele impacto, consegui controlar. Não ouvir a tua voz, a tua gargalhada única que me arrancava um sorriso de felicidade em saber que estavas feliz por me ver... onde quando olhava para ti e me revia orgulhosamente em tantas particularidades que eram só nossas e ambas sempre tivemos essa consciência e até brincávamos com isso... mas hoje nada foi como antes... não te vi, não te ouvi, só senti a tua presença onde quer que estejas e isso naquele momento foi tão reconfortante e encorajador para aguentar as 2 horas que ali permaneci...
Ir ao teu quarto foi a prova de fogo. Assim que entrei, senti que o teu cheiro ainda emana por aquelas quatro paredes. É incrível o cheiro tão forte que vem permanecendo ao longo destes meses e teima em não desaparecer... mexer nas tuas coisas foi bom... ficar com a tua bengala, foi apaziguador. Sempre foi o teu amparo ao longo desdes anos todos e agora será o meu amuleto. Eu sinto que sim...
Vim embora triunfante comigo mesma pois tinha conseguido aguentar o embate das emoções visuais e olfativas que tinha tido e isso fez-me remexer em memórias que estavam meramente adormecidas...
No carro, foram inevitáveis as lágrimas que cairam num turbilhão de emoções e de muita saudade...
Como um flash, lembrei-me da última vez que te vi... do sorriso que me deste como se de uma despedida se tratasse. Na altura ambas sabíamos que sim, apesar de eu não querer ver, mas hoje claramente sei que sim. Como a alegria que senti por ver que no meio de tantos netos eu era a única de quem te lembravas e chamavas vezes sem conta. Isso será sempre um conforto tão grande. Egoísta eu sei, mas meu. Só meu.
Inevitavelmente mais uma vez enquanto escrevo estas palavras para ti, as lágrimas escorrem-me pela face mas não faz mal, porque são de paz de espírito por ter conseguido ao fim destes meses todos ter ultrapassado um bloqueio que no meu íntimo teimava em não superar, mas que hoje eu pus fim... após 10 meses da tua partida...