Monday, October 4, 2010
De La Fontaine ao Panda Biggs
Ontem escrevi um post enorme sobre as minhas memórias da infância e a dos meus filhos, comparando os modos de entretenimento que as duas gerações tinham usufruído.Apaguei-o sem querer e não sei como, nada ficou gravado. Resolvi escrever outro parecido, usando as ilustrações que tinha escolhido.
Lembro-me de ser bem pequena, quando íamos passar os sábados à tarde a casa da Avó ( os Avós eram dois, mas nós dizíamos Casa da Avó) com as minhas irmãs. Como éramos oito, tínhamos de ir em duas fornadas de 4+4, se não a pobre da Avó, que era uma santa, teria tido muito que aturar. Mesmo assim , ela tinha uma paciência enorme, contava-nos histórias infindáveis, algumas só suas e que, infelizmente, morreram com ela porque nenhum de nós é capaz agora de as contar tal qual. Tinha um livro grande cor de rosa com as Fábulas de La Fontaine, com ilustrações lindíssimas e os livros da Bécassine, que traziam de França e que ela nos traduzia, modificando o que nos pudesse pôr tristes:)). Mesmo assim, havia partes em que a Bécassine fazia burrices por ser pouco dotada e isso comovia-me até às lágrimas.Devo dizer que sempre fui uma sentimental! As 19 horas era o momento sagrado da Emissão Infantil. Íamos para o quarto do Avô, interrompíamos a sua música clássica para ouvir as horrendas vozes das Odete de Saint Maurice e filhas e da Madalena Pataxo, uma espécie de novelas como a Polyanna e outras ainda mais pirosas, que nós adorávamos. As emissões de histórias radiofónicas ainda se prolongavam até 2ª feira com o Cantinho dos Miudos, as 17.10, exactamente quando nos iam buscar ao colégio; aí ouvíamos no carro emissões brasileiras, contos de Grimm e de Andersen, depois feitos em filmes da Disney.Já as sabíamos de cor, mas não fazia mal.Pelo menos não ouvíamos o Teatro Tide !!!
Não havia televisão. O meu Pai só a comprou em 1969 quando o Armstrong pôs o pé na Lua. Antes disso, cada vez que queríamos ver um dos jogos do Benfica na Europa, íamos a casa duns vizinhos onde nos amontoávamos na sala a sofrer e a torcer. O Mundial de 66 foi visto em casa do meu irmão , que tonha arranjado uma TV pequenina e a punha no cimo dum armário para que todos pudéssemos ver. O Eusébio parecia uma formiguinha a correr de um lado para o outro.. Ficámos todos com os olhos em bico naquele jogo contra a Coreia e chorámos de raiva no Portugal-Inglaterra do nosso descontentamento.
Mais tarde, os tempos eram outros, os meus filhos eram crianças e passavam bastante tempo a ver as emissões a preto e branco para crianças infindáveis como a Heidi e o Marco, o Era uma Vez o Homem, o Conan, o Dartacão, etc. E nós com eles a criticar as vozes da Candy Candy e os olhos em bico de todos os herois da banda desenhada japonesa.
Hoje os meus netos vêm cá jantar e dormir pela primeira vez. Até agora não tinha espaço para eles, mas já não há mais alibis....tenho dois quartos vazios e um deles já todo arranjadinho para dormirem os dois juntos. Já sei que vão querer ver o Panda Biggs,
neste momento a alegria da pequenada de sete-oito anos. Espero que não acordem às 6 da manhã com a excitação!! Curioso que os filmes para crianças ainda nos presenteiam com as mesmas vozes irritantes de sempre. Eu com paciência de Avó estarei feliz por tê-los cá e poder mostrar-lhes como gosto deles, apesar de às vezes me parecer que já vivi mais de dez vidas e que já não tenho muito por onde.
Fica aqui um genérico que ainda me faz chorar...il était une fois l'homme, la vie et l'espace,.