Thursday, January 14, 2010

Resumo da minha vida

Pois, se é para fazer um resumo do meu "processo de engorda", é preciso fazer um resumo da minha vida inteira porque nunca fui magra e, mesmo em alguns períodos em que tive um peso a baixo dos 70, continuava a ser a mais gorda das minhas amigas.
Já escrevi sobre isto algumas vezes :D tentarei ser breve!
A minha infância foi normal, sempre fui tímida e sempre estive rodeada de boa e muita comida. Comecei a engordar consideravelmente quando fui para o 5º ano, por volta dos 10 anos, altura em que o facto de estar em contacto com mais pessoas e ter acesso a todas as porcarias (gomas, bolos,...), exercia em mim uma mistura de pressão e vontade de me sentir bem. Aos 13 anos já pesava 85 e, com a entrada na adolescência e também numa altura em que a minha auto-estima esteve em crescimento, comecei a emagrecer. Tive mais cuidado com o que comia, fazia 1 hora de exercício diário, até deixei de comer pão durante 1 ano e aos 15 pesava 70 kg.
Ao ir para o 10º ano mudei de escola, mudei de cidade, mudei de amigos. Foi a melhor altura da minha vida! Mantive-me até ao 12º com 68kg, mas continuava a ser a mais gorda da minha turma e das poucas gordas da escola. Apesar de ser bem aceite e ter muitos amigos, eu era a rapariga que poucos queriam namorar, eu era aquela que ouvia as bocas foleiras, eu era aquela que custava a arranjar roupa nas mesmas lojas...
Fui desde cedo criando uma imagem de mim como sendo a mais reles possível, aquela que nunca teria direito a nada, aquela que não merece nada: era apenas uma gorda horrível. Talvez por isso, por ter chegado aos 18 com uma sensação de derrota, foi fácil para o meu ex namorado conquistar-me, já que só tinha tido algumas curtezitas sem importância e ele vinha numa de "amor para sempre" e eu quis muito acreditar nisso. Só que a coisa não foi bem assim e, com ciúmes e escândalos, com constantes "és gorda e ninguém gosta de ti", o resto de mim ficou arruinado: engordei para os 98.
Quando digo que a minha vida mudou quando decidi viver um grande amor, não quero dizer que o Príncipe é a causa e o motivo de tudo, quero dizer que esse foi o início, porque a partir daí não tenho baixado os braços na tentativa de recuperar em mim aquilo que parecia perdido. Tenho muito trabalho ainda pela frente, não tem sido nada fácil porque continuo a ver-me muito diferente, desenquadrada, a gorda de que ninguém vai gostar...mas estou muito melhor! Comecei a emagrecer, comecei a conseguir olhar para mim, comecei a deixar que as pessoas se aproximem de mim e quero continuar até ver em mim alguém que é verdadeiramente capaz!

Algumas de vocês não entenderam bem o texto de ontem. A questão central não é em altura nenhuma a beleza, mas sim a novidade que é para mim não me sentir inferior e ver-me como alguém que pode ganhar lutas. Quando digo que ao ver o meu ex pensei "what was i thinking" não estou a chamá-lo de feio, estou a dizer que se fosse hoje em dia saberia que aquela pessoa não tem nada haver comigo e nunca teria deixado que me destruisse como destruiu. O que digo em relação à actual namorada, tê-la chamado de feiosa (podia ter sido ranhosa, ou outra coisa qualquer) não representa nenhum tipo de ataque à pessoa porque é apenas alguém que eu vi e que eu não conheço, nem é alguém que me faça sentir melhor comigo mesma nem me faz sentir "uma boazona": EU PESO 83 KG, tive vergonha de mim a minha vida toda, acham mesmo que é por futilidade que escrevi aquele texto? Não, não é, se olharem para o título percebem que a minha alegria e o meu entusiasmo vêm de, finalmente, ter auto-estima e não me sentir derrotada ao olhar para mim e para os outros. Também não me estou a transformar em nenhum monstro arrogante e armado em superior, nem poderia porque sabendo como já fui pisada e julgada nunca poderia fazer isso com outras pessoas. Podem até não entender, podem ficar muito surpreendidas por haver alguém que fica feliz por ter um bocadinho de auto-estima, mas eu vim exactamente disso: de não ter nada.