Tuesday, February 23, 2010

Ver aquela que eu queria ser em criança

A minha avó e a minha mãe continuam a dizer que a minha variação de peso está a ser muito rápida e que isso não é saudável. Relembro-lhes que tinha quase 100 kg, relembro-lhes que estou a ter ajuda profissional para emagrecer e a fazer dieta com regras saudáveis, falei-lhes de alguém de quem vos vou falar agora: a minha ex-médica de família, aquela que era a minha ídola desde que eu era muito pequenina, que vi ontem no supermercado.
A minha mãe sempre trabalhou num centro de saúde e eu cresci nesse ambiente, entre médicos e enfermeiros, talvez venha daí a minha paixão pela área da saúde. Lembro-me muito bem que todos me punham ao colo e gostavam muito de mim mas a minha favorita era a Laura: a médica mais brilhante que já
conheci, das pessoas mais generosas e inteligentes que alguma vez se cruzaram no meu caminho. Era, já na altura, gorda mas tinha classe, era alegre, era bem sucedida e eu admirava-a profundamente, achava que alguém como ela curaria qualquer doença (aliás salvou a minha mãe, descobrindo um problema que ninguém descobria), enfrentaria qualquer desafio e venceria: eu queria ser como ela quando fosse grande!
Bom, o tempo passou, fui morar para Lisboa e quando perguntava por ela, a minha mãe dizia-me que estava de baixa e nunca mais deixou de estar. Ontem, quando a vi, fiquei de coração partido... Ela está enorme, tão gorda que dá 2 passos e tem que parar de exaustão, muito suada e ofegante, destruída. Onde está aquela pessoa que parecia brilhar? Pouco sai de casa, vive sozinha, não exerce a profissão que a apaixonou toda a vida, não tem filhos, nunca teve um grande amor (ou coragem para o viver), não tem saúde: está destruída. T
oda a inteligência, todo o sucesso, toda a alegria, foram engolidos pela gordura, pela falta de amor-próprio. Tentei sorrir, mas estive sempre a pensar "como é que deixaste arruinar-te desta forma?" e percebi que aquele poderia ter sido, facilmente, o meu futuro.

Por isso, o que quero dizer-vos hoje é que não desistam porque a dada altura já não conseguimos voltar para trás e a destruição é a todos os níveis, não desistam de vocês mesmas, não desistam de ser os vossos sonhos de criança, não desistam de ser felizes, saudáveis, cheias de luz :)